Língua Portuguesa

Por Conta ou Por Causa?

Por Conta” sempre foi uma expressão usada corriqueiramente por mim, no lugar de “Por Causa“, até que li algo, num recorte, sobre ser, nessa forma que eu usava, uma expressão incorreta e indevida, mas não se dava a explicação completa nesse recorte. Mas, por via das dúvidas, simplesmente deixei de usar, a não ser no trabalho, onde, por força da rotina, alguém sempre paga algum valor menor “por conta” de uma dívida maior; o chamado “pagamento parcial”. Foi nessas ocasiões em que percebi a inconsistência do “por conta” aplicado a uma decisão ou ação, como resultado de uma ação anterior.

Então, numa situação posterior, falei com alguém que usara o “por conta” indevidamente e comentei que aquilo seria errado. Não é que o sujeito, incomodado por ter sido admoestado entrou no Google e encontrou fundamentação para seu erro (que para ele não era erro)? Alguns “mestres” da Língua, com blogs tão pouco conhecidos como o meu, endossaram o seu uso, dizendo não haver problema. Porém, reputei isso como uma negociação com o erro, o que é comum em nossos dias, inclusive por professores que usam a expressão “a língua é viva, dinâmica“, para validar os maiores absurdos. Mas, também na Língua Portuguesa, vale o ditado “o errado é errado, mesmo que todos estejam fazendo (ou, no caso, falando); e o certo é certo, mesmo que ninguém o faça (ou fale)

Por Conta ou Por Causa: Como Usar de Forma Correta e Evitar Ambiguidades

No universo da Língua Portuguesa, algumas expressões ganham novos significados e se popularizam, especialmente se a fonte da má informação é popular (“nóis vai descê…“, consolidando o uso da Língua ladeira a baixo, “para o ralo”, para o abismo), muitas vezes gerando dúvidas sobre seu uso correto, especialmente em contextos formais. Uma dessas expressões é “por conta“, que, além de sua acepção original, vem sendo usada no sentido de “por causa“. Mas será que essa substituição é adequada em todos os casos? Este artigo aborda o tema com o rigor da norma culta, ajudando você a decidir quando usar cada uma dessas expressões.


A origem e o uso tradicional de “por conta”

Originalmente, a expressão “por conta” está intimamente ligada ao universo administrativo, financeiro e contábil. Ela carrega a ideia de responsabilidade ou atribuição de algo. Veja alguns exemplos clássicos:

  • Essa despesa será ficou por conta do cliente.
  • O valor foi debitado ficou por conta da empresa.
  • Esse pagamento é feito por conta da dívida total com a instituição financeira

Nesses casos, “por conta” é insubstituível, pois exprime um conceito técnico. Qualquer tentativa de uso diferente poderia comprometer a clareza e a precisão do texto, especialmente em áreas como contabilidade, administração e finanças.


“Por conta de” no sentido de “por causa de”: uso válido?

Com o passar do tempo, “por conta de” passou a ser amplamente utilizada no sentido de “por causa de” ou “devido a“. Por exemplo:

  • O evento foi adiado por conta da chuva.
  • As vendas caíram por conta da crise econômica.

Embora comum, esse uso não é considerado o mais formal, sobretudo em textos técnicos ou acadêmicos. Gramáticos de linhas mais conservadoras recomendam evitar essa construção em contextos que exigem maior rigor, sugerindo alternativas como “devido a“, “em razão de” ou “por causa de“.


O risco de ambiguidades

No campo profissional, especialmente em áreas como contabilidade e finanças, onde “por conta” possui um significado técnico bem definido, o uso no sentido de “por causa de” pode gerar ambiguidades. Considere o seguinte exemplo:

  • O pagamento foi realizado por conta de uma dívida maior.”

Nesse caso, a frase pode ser interpretada de duas formas:

  1. O pagamento foi feito como parte de uma dívida maior (sentido técnico de “por conta“).
  2. O pagamento foi feito por causa de uma dívida maior (sentido causal de “por conta de“).

Ambiguidade como essa pode comprometer a clareza da comunicação e gerar problemas na interpretação de documentos oficiais.


Recomendações práticas

Para evitar confusões e ambiguidades, siga estas diretrizes ao redigir seus textos:

  1. Em contextos formais e técnicos: Use “por conta” apenas em seu sentido original, ligado a responsabilidade ou atribuição. Para indicar causa, prefira construções tradicionais e claras, como:
    • Devido a um pagamento parcial…
    • Por causa de uma dívida maior…
    • Em razão de ajustes no sistema…
  2. Em contextos informais: O uso de “por conta de” no sentido de “por causa de” é amplamente aceito e compreensível. Ainda assim, avalie se o público-alvo do texto pode interpretar a expressão de forma ambígua.
  3. Sempre revise seus textos: Identifique possíveis ambiguidades e substitua expressões que possam comprometer a clareza, especialmente em documentos técnicos ou jurídicos.

Conclusão

A evolução da linguagem permite o surgimento de novos usos e significados, mas o rigor linguístico deve prevalecer em contextos formais e técnicos. Evitar o uso de “por conta” como sinônimo de “por causa” nesses casos é uma demonstração de cuidado e profissionalismo.

Seja em textos técnicos ou na comunicação cotidiana, a escolha da expressão correta reforça a clareza e a eficiência da mensagem. Afinal, dominar a língua é um exercício constante de adaptação, sem abrir mão da precisão.


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