Língua Portuguesa

Vamos parar de ‘estar falando’ besteira?

Texto: LUIZ CAVERSAN / Adaptação: Sergio de Souza

O gerundismo toma conta do besteirol telefônico, religioso e corporativo

Você liga para um serviço qualquer via telefone, pede uma informação, e a voz do outro lado responde: “O sr. pode aguardar um pouco, que eu vou estar anotando seu pedido?

Você liga o rádio, e um especialista do Procon ensina ao consumidor o que fazer no caso de saques irregulares na conta corrente: “Primeiro, ele deve estar providenciando um boletim de ocorrência. Depois, deve estar procurando o Procon para as medidas cabíveis.”.

Estar verificando, orar para que Deus possa estar abençoando, estar enviando, estar aguardando, estar desligando o telefone, estar desligando a TV, porque não dá mais para aguentar tanto gerúndio.

“Vou verificar”, “vamos orar para Deus abençoar”, “o sr. deve aguardar”, “eu desligo o telefone” e “desligo a TV, porque não aceito mais essa deformação que está em curso na pobre língua pátria, vítima de tantas agressões.

De tanto eu insistir, até o nosso genial Pasquale Cipro Neto já abordou a questão. Numa dessas intervenções, deu exemplos, como: “O senhor pode estar fornecendo o número do cartão?”, “Vou precisar estar marcando uma reunião (ou seria meeting?)“, “Um minuto, que vou estar verificando“.

E me contou que, num dia em que perdeu a paciência e perguntou por que a pessoa do outro lado da linha não dizia simplesmente “vou verificar” em vez de “vou estar verificando“, ouviu a seguinte pérola: “Porque essa é a maneira correta de estar falando português“.

Tudo bem, ao longo dos anos a gente vem aguentando “poblema”. “pobrema”, “nóis vai”, “solvete”, “pograma”, “muié”, “cumê”, “durmi” etc. Afinal, como diria o Manuel Bandeira, essa é a “língua certa do povo”, e esse povo é inculto mesmo.

Agora, ter que aturar uma enxurrada de gerúndios desnecessários e enervantes, que só servem para desvirtuar a musicalidade e a eficiência de nossa língua, aí já é demais.

Principalmente porque essa mania contaminou gente de um certo nível escolar: secretárias, atendentes de telemarketing, funcionários de empresas de cartões de crédito, serviços de informação em geral e até um ou outro radialista e os religiosos que gostam de complicar a fala, para dar um “verniz” de cultura. Ou seja, gente que deveria saber e poderia falar corretamente. Mas que acha chique a forma composta “vou estar“, certamente oriunda de manuais em inglês que propugnam o “I will be” qualquer coisa. Agora chega, não fico mais quieto diante desse mal. Abaixo o gerúndio!

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